terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Soir.

Alice corre pelos caminhos de volta, nao freia nas curvas, curvas que poderiam ser quadris ou os seios do seu delirio.
Pensa, entre um carro e outro, sobre estar a pouco nua sobre a cama e que palavras violam bem mais que dedos e linguas e braços e mãoaberta em tapa. Por alguns instantes se sente puta de si, prostituida por seus proprios conceitos. Alice grita alguma musica vulgar enquanto pensa na receita preparada ao meio dia, na melancolia surda que anda pelas suas ruas. No fundo sabe que o silencio não é o melhor de si e que mais valem os gritos febris que o nao dito apático e vil.
Afundada na docura que tem lhe sido o veneno, desvia-se das imagens que lhe ocorrem e tenta se manter na superficie morna e acalentadora.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Éprouver.




Na cama, Anaïs, Henry, June e Eu.
Brainstorming absoluto. Fluxo de consciência enlouquecedor.
Fecho o livro.

Ela atravessa a cidade. Há paixão nas palavras e nos olhos dela.
Vinho vermelho que me cala. À cada colchete que se abre do espartilho ,um punhado de sentimentos intensos, perfurantes.
Lírica a sua nudez. Pornográfica a violência do amor que sinto.
Pede cigarros. Nego. Cedo - sempre. Perco-me nas fumaças.
Não durmo. Ela dorme. Olho sôfrega as formas que me comovem.
As manhãs seguintes são sempre mais claras.

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Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.


Drummond.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Aujourd'hui.





Seria um relato. Se fosse possível.
Tarde cheia de luz que nos invade. Eu te invado. Conto segredos com muda língua e te sinto inteira.
Mando Lacan à lua e Freud ao espaço. Já nenhuma teoria nos serve como parâmetro, hora de admitir o caráter extraordinário dessa explosão.
Porque cada detalhe teu me interessa. A tua totalidade ou o teu ínfimo carregam gotas do meu desejo.
Gosto de te ver vindo, sorrindo ao longe, apressando os passos e encurtando todas as distancias.
Incendiária Morena Flor... Quisera eu poder fazer o tempo parar por mais alguns instantes...
A fumaça do meu cigarro se perde pelo ar... Sem tua boca para receber a fumaça, os meus absurdos, os beijos que seriam flagrados...
Fica a escova de cabelo jogada displicente na mesinha. Um olhar-riso-leve é involuntariamente lançado em direção aos seus vestígios.
Perfume que os lençóis abraçaram... O meu abraço incompleto sem o teu..
São tantas as palavras e ironicamente nenhuma que caiba todo esse sentir.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Non sense.


“Hey! Well, I don't care how long it's gonna take you now,But if it's a dream I don't want No I don't really want itIf it's a dream I don't want nobody to wake me."
Try- JANIS JPPLIN

Pelo espelho, pernas entrelaces e olhares que se tocam.
Fantasmas no andar de cima a nos vigiar.
Não sei bem o que, mas algo acontece por trás daquela cortina de pedrinhas...
Rosto que me comove, distraído, enquanto fala sobre coisa alguma e me beija chocolate, e me toca jazz.
Janis enlouquecedora a nos en/cantar, enquanto eu contava os meus segredos com a boca, sem palavras, sem medidas.

Coisa boa essa de brincar de amores...

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Carta à Mafalda



Mafalda, minha muito querida

Ando tão passional... Não, não são os novos amores. Tampouco os antigos, estes já se cristalizaram no meu sangue- irremediáveis.
Escrevi ao Joaquim por esses dias, contava lhes da minha inquietude, da minha crença no ceticísmo como único terreno realmente firme. Não quero dar a esta carta um tom de melancolia tão propriamente meu. Tenho lutado a favor do pragmatismo dos modernos – Romantismo, geração segunda, eu sentada na varanda ao meio dia. Irrespirável.
Os dias frios - nesta cidade quente - refletem as minhas produções irregulares.
Sou feita de chuva, você bem sabe. A mente que passeia pela baía de Guanabara, olhos que pairam sobre a de todos os santos. Seis meses de solidão à minha espera. Só a Ana e eu, cada qual com a sua solidão mais obvia. Ela jura que cai das páginas para os meus braços (tantas paráfrases, aquele índice Onomástico que eu juraria ter sido feito por minhas próprias mãos. Não importa tanto).
Mas saio de mim e me estendo a você. Quero saber dos seus dias. Dos seus dois quereres e planinhos sempre à mãos. Será que algum dia, em um desses tantos palcos, você não interpretou você mesma? Acho que um dia lhe lerei.
Mergulhar num café surreal e respirar 40 anos de Beatles. Registros embebecidos e gosto de chocolate na boca? O nosso menino especial a dirigir além do carro toda aquela situação que já me compõe?
Leio Adélia e leio você. Adorável compatibilidade.
Aparece. Não prometo tipicidades no Sábado, mas um blues, mentes pra todos os gostos, licor pelos sorrisos.

Sua Líz.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

L'évasion.


Ao dizer aquele “Sim” sabia que havia acabado de condenar qualquer possibilidade de ternura. De ternura, entende?
Entre chocolates, o vinho seco escolhido com precisão, meu ar esquivo e as tuas mãos leigas, garantimos problemas e vontades para uma vida inteira. Talvez Duas.
Marisa monte e os dizeres inconvenientes, o símbolo risível daquela data, minha lembrança distante... Porém ali estava eu. Nós atadas em nós - firmes.
Confesso ter me questionado por muito se estaria apta àquele tilintar tão impropriamente dito.

Corte.

Toda nudez sobre a cama profana, Livro de poemas à mão. Versos, e eu não seria além de mera expectadora.

“Frente a frente, derramando enfim todas as palavras, dizemos, com os olhos, do silêncio que não é mudez. E não toma medo desta alta compadecida passional, desta crueldade intensa de santa que te toma as duas mãos”. A.C.

sábado, 2 de junho de 2007

À toi.




Que estas letras estejam perfumadas - Lauro Rosa e a porção que por muito esteve impregnada nas minhas melhores lembranças.
Benditas as alças que caiam escorregando pelos meus ombros, costas contra a parede fria, o sangue quente, a falsa fragilidade e o que eu tivesse de melhor e mais sufocante entregues de mãos e boca beijadas.
Amor da vida. Na medida do impossível.
Em todos os cinemas, por todos os teatros, coisa de meninas, densa e displicentemente numa fuga que só resultava em encontros ainda mais cúmplices.
Bebendo Lacan, fumando The Doors, beijando o essencial acadêmico,
Gozando Billie Holiday - ainda nos encontramos nas primeiras poltronas, ao fim de cada espetáculo.